O Perdão e o Tempo Que Não Volta
- tecpr4
- 5 de mar.
- 2 min de leitura
A mágoa tem um peso invisível, mas poderoso. Quando alguém que amamos nos decepciona, o instinto muitas vezes nos leva a erguer barreiras, a nos afastar, a carregar o rancor como se ele fosse uma forma de justiça. Mas será que esse peso nos protege ou apenas nos impede de seguir adiante?
A vida segue um fluxo próprio, e quando nos prendemos ao ressentimento, interrompemos esse movimento. Deixamos que a dor dite nossas escolhas, que as sombras do passado interfiram no nosso destino. Quantas vezes nos afastamos de algo que nos fazia bem por orgulho? Quantas oportunidades recusamos porque ainda carregamos feridas não curadas?
O tempo não espera. E muitas vezes só percebemos isso quando é tarde demais. Quando a última palavra já foi dita, quando a chance de um abraço se perdeu, quando o adeus não pode mais ser desfeito. Todos partiremos um dia, e então, o arrependimento não preencherá a lacuna do que poderíamos ter feito hoje.
O perdão não é uma rendição, não é abrir mão da nossa dignidade ou ignorar a dor. Perdoar é um ato de liberdade. É permitir que a nossa história continue sem as correntes do passado. Não significa aceitar de volta quem nos feriu, mas sim dar a nós mesmos a chance de viver sem carregar um fardo que só nos machuca.
E se nos permitíssemos olhar para o outro lado com um coração aberto? Não para justificar o erro, mas para compreender que todos, em algum momento, falham. Será que a pessoa que nos feriu tinha plena consciência do impacto de seus atos? Será que também não carrega suas próprias dores e limitações? Entender não significa concordar, mas pode ser a chave para nos libertarmos do ciclo de dor.
Nosso destino não deveria ser moldado pelo rancor, mas pelo que nos faz crescer. Abandonar o que nos faz bem por orgulho ou mágoa é dar ao passado o poder de definir nosso futuro. Mas quando escolhemos o perdão – mesmo que silenciosamente, dentro de nós – abrimos espaço para recomeços, para novas possibilidades, para uma vida mais leve e plena.
Se há alguém de quem nos afastamos, mas que ainda ocupa nosso coração, talvez seja hora de dar o primeiro passo. Procurar, conversar, dizer o quanto essa pessoa foi importante. Não precisamos esperar um adeus definitivo para perceber o que poderia ter sido diferente. O tempo é agora, e o amor não deve ser uma palavra não dita.
Porque, no fim, perdoar é mais do que soltar o outro.
É soltar a nós mesmos antes que o tempo nos roube essa chance.
Texto: Michel Dourado - Dirigente Espiritual - CECPR
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